31 de janeiro de 2012

Cala A Tua Boca Com A Minha



"Porque te escolho, neste sussurro sem retorno?
Porque te quero no meu sono, se iluminaste sobretudo o que não fui?
(...) Arrumar os amores, é a primeira regra da vida - saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los.
Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. (...) quando o amor nasce protegido da erosão do corpo,
apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris
dessa animada esperança a que chamamos alma
- porque se esfuma?
Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar,
e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?(...)
Em que dia me abandonaste?
Em que palavra a minha voz se partiu?
Que sombra se abriu por dentro dos teus olhos para despedaçar a minha imagem?
Foi sem querer.
Se deixei de te comover, de te divertir, de te inspirar, meu querido, foi sem querer.
(...) Foi sem querer que se calhar não fui mesmo capaz..."

Inês Pedrosa [Fazes-me Falta]

Bocas OnLine

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Não escrevo a ninguém, deixei de dar notícias.
ninguém precisa de saber onde me encontro,
se cheguei bem, se vou partir,
se mudei de rosto ou de máscara.

Al Berto

Bocas OnLine

30 de janeiro de 2012

Messy Hearts Made Of Thunder

Dizia-te do minuto certo. Do minuto certo do amor. Dizia-te que queria olhar para os teus olhos e ter a certeza que pensavas em mim. Que me pensavas por dentro. Que era eu a tua fantasia, o teu banco de trás. O teu desconforto de calças caídas, de pernas caídas, da rua que não estava fechada porque nenhuma rua se fecha para o amor. Na cidade do meu sono, havia palmeiras onde alguns repetiam charros e putas e atiravam pedras ao rio. Mas eu nunca gostei de clichés. Nem de quartos de hotel. Nem de camas que não conheço. Eu nunca abri as pernas no liceu. Nunca abri as pernas aos dezassete anos, de cigarro na mão. Eu nunca me comovi com o sonho de ser tua. Eu nunca quis que ficasses, entendes? Que viesses. Queria que quisesses de mim esse minuto certo, essa rua húmida de ser norte. Queria que me quisesses certa, exacta, como o minuto onde me pudesses encontrar. Eu nunca quis de ti uma continuidade. Mas um alívio, uma noção de ser gente, entendes? Eu nunca quis de ti o sonho do sono ou da viagem. Nunca te pedi o pequeno-almoço, a ternura. Nunca te disse que me abraçasses por trás, que adormecesses. Eu nunca quis que me desses casa e filhos e lógica. Que me convidasses para dançar. Queria os teus olhos a fecharem-se comigo por dentro e tu por dentro de mim.
Queria de ti um minuto. Um minuto.

Filipa Leal

Bocas OnLine

Apetece-te Uma Chávena De Chá?



Estava capaz de fazer uma fogueira. Apetece-te uma fogueira?
Vou fazer uma fogueira.

Estava capaz de rasgar o jornal de domingo aos bocadinhos
e tentar não ligar aos anúncios.

Estava capaz de acabar de cavar o buraco
que estive a abrir no quintal.

Estava capaz de fazer chá e tomar vitamina C.
Apetece-te uma chávena de chá?

Estava capaz de dar muito simplesmente um passeio,
Sem destino nenhum.

Estava capaz de ficar muito sossegadinho a um canto, parando de inventar motivos
para andar de um lado para outro.

Estava capaz de ter uma conversa contigo.
Apetece-te uma conversa?

Sam Shepard

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29 de janeiro de 2012

Fica Só Um Minuto Mais...

Foste tu que me meteste nisto e depois desapareceste.
Tenho saudades tuas, do teu génio, do teu riso, das tuas brincadeiras de palavras.
Tu nunca foste bem deste mundo, e agora, dizem-me, retiraste-te de vez, para sempre.
Eu nunca quis conhecer ninguém conhecido.
Na nossa última conversa telefónica, disseste-me, mentindo certamente, que querias muito continuar a falar comigo, a corresponder-te comigo, mas que não me deixavas ver-te, que pesavas  cento e trinta quilos. Mandei-te à merda.
Eu gostava de te dar mais um abraço, apesar de tudo.

[...]

Por isso chegou o tempo de nos refugiarmos em secretas paisagens, de nos perdermos um do outro, de não poder voltar a abraçar-nos num derradeiro abraço.

[...]

Pedro Paixão

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Blue


Hoje, vou correr à velocidade da minha solidão

Al Berto

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28 de janeiro de 2012

Sou Como Um Pião...

"Quis-te todos os dias e nunca te pude ter nenhuma noite. Para falar baixinho por debaixo dos lençóis
e brincar às escondidas dentro dos guarda-roupas.
E, no entanto, foi bom ter-te por perto tão longe e ouvir a tua voz e ver os teus olhos ternos e doces. Sou como o pião que tem de girar constantemente e quando pára cai aos trambolhões pelas escadas a baixo.
Gostava de estar contigo fechado num quarto frente ao mar durante muito tempo, que a comida chegasse de balão, que não houvesse telefonemas nem do céu nem do inferno e tratasses de mim como quem cuida de um doente que não ignora o nome da doença. A doença dos piões que teimam em girar, girar, girar perto de escadarias altas.
Lembras-te? Fica bem. Não te esqueças que gosto de ti há muito tempo..."

Pedro Paixão

Bocas OnLine

Don't Answer Me...



Don't answer me, don't break the silence
Don't let me win
Don't anwer me, stay on your island
Don't let me i

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Boa noite. Eu Vou Com As Aves!

 

Corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te por que parto
por que amo
ouvir-te perguntar quem fala?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer

Al Berto

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27 de janeiro de 2012

Há Dias Assim...




Sou composta por urgências:
minhas alegrias são intensas;
minhas tristezas, absolutas.
[...]
O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina.
E a minha lucidez é que é perigosa.
[...]

Clarice Lispector

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Good Night


Ao deserto dos teus ombros ofereço os meus lábios

Albano Martins


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26 de janeiro de 2012

Confissão...

Quando passo ao de leve pela minha vida tudo ganha sentido. Mal paro, tropeço. Não posso parar. Bom é este fim de tarde doce e azul sem fundo que resplendece no ar. Tudo se torna suave e sei que sou parte inteira deste universo que, a esta hora, se mostra assim.

Queres saber onde estou? Estou no lugar onde qualquer pessoa que foi amada se encontra. No mexer, no sussurrar, na entrega, no incansável prazer, na alma a dois. Lindo é o meu amor nómada que não pára de fugir de paisagem em paisagem e me vem visitar sempre que o não espero. Para sentir bater mais forte o meu coração que ele envolve como uma serpente. E o meu sexo nos seus dentes.

Vem ter comigo que eu não espero mais.

Pedro Paixão


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25 de janeiro de 2012

Made In Heart

Nada me pertenceu - nem o vestido indecente
que pedi emprestado para te oferecer os seios, nem
os seios, que eram já teus muito antes do vestido.

O sorriso que devassou brevemente o meu rosto não
me pertenceu; porque ninguém o viu antes de ti,
nem o espelho se convenceu a devolver-mo.

Todas as coisas que a casa guardou quando partiste não
me pertenceram; porque, ao tocar-lhe nos dias mais
cinzentos, sinto que é pelo calor dos teus dedos que ainda
gritam; e mesmo a cama onde só teu corpo era bem-vindo
nunca chegou a ser inteiramente minha, pois, de contrário,
encontraria nela o meu lugar, e não o teu vazio.

Tu não me pertenceste - e, se uma vez acreditei que
acontecias dentro do meu corpo, das outras vi-te abraçar a
solidão com tanto ardor que concluí ser a memória quem
te mantinha vivo. O meu coração, contudo, sempre

te pertenceu - e a mão desesperada que o procura não
sente bater longe do teu peito. E mesmo os poemas todos
que escrevi não me pertenceram, porque essa vida
que pulsava no papel levaste-a tu contigo na hora
em que te foste - e a que tenho agora é mais
branca e vazia do que a morte, não é vida nem nada

que eu queira alguma vez que me pertença.

Maria Do Rosário Pedreira


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Cigarette??



[...] O meu corpo, por onde quer que vá,
                                    espalha incêndios que não me recordo como apagar [...]

Sérgio Xarepe


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20 de janeiro de 2012

Este Riso...


Às vezes assusta-me este novo riso que tenho. Não que antes não risse, mas exactamente porque antes ria e este riso não ri. Apenas revérbero negro do que seria um sorriso se alguma alegria o tomasse. Só que não há alegria e o riso perpetua-se negro sob o céu pesado do olhar de outros que se perguntam e com razão: estará a ficar louco? Por mim nunca me coloquei a questão (é o olhar deles que me assusta). Nos dias a questão foi sempre outra: como sobreviver a esta dor sem pausa? Como atravessar este grito sem fim? É para ela que o riso é solução...

Jorge Roque


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19 de janeiro de 2012

...E Hei-De Escrever-Te Sempre Sem Que Nunca Te Escreva...



o teu sono anoiteceu mais que a noite
e hei-de escrever-te sempre sem que nunca
te escreva sei as palavras que fechaste
nos olhos mas não sei as letras de as dizer
ensina-me de novo a ensinares-me for
ir ter contigo ao teu sorriso ensina-me
a nascer para onde dormes que me perco
tantas vezes numa noite demasiado pequena
para o teu sono num silêncio demasiado fundo
dormes e tento levantar a pedra que te
cobre maior que a noite o peso da pedra que
te cobre e tento encontrar-te mais uma vez
nas palavras que te dizem só para mim
o teu sono anoiteceu mais que as mortes
que posso suportar e hei-de escrever-te
sempre e mais uma vez sozinho nesta noite

José Luís Peixoto

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18 de janeiro de 2012

A Song For You


Enquanto dormes constrói-me um rosto de luz, no limbo do teu sonho. Toca-o e acorda-me. Caminha comigo, peço-te, na inquietação daquele rosto, e nesta alegria suspensa na solidão.

Há séculos que te esperava para fugirmos. E não sabia que a fuga era possível pelas estradas de giestas em direcção ao mar. Dorme e consente que o meu coração escute o teu. Quero arder contigo, nesta eternidade feita de pontes atravessadas, kms nocturnos e segundos de asfaltos.

Para trás ficou a cidade. E tu sabes que a cidade só existe no apanhar um táxi. E perdermo-nos até amanhã – sem querer podermos dizer adeus, porque não se pode dizer adeus à paixão.

Amanhã ou enquanto dormes – agora mesmo – vou pensar em ti. Intensamente: até que as horas me doam a pele, e o movimento dos dias passe como aves que perdem o sentido do voo – até que tudo o que me rodeia tome a forma do teu corpo. E em mim circules – quando estendo a mão por dentro da noite e te acordo, no fogo dos meus olhos.

No fim do sono existe um vulcão.
De repente a manhã. A bruma. Um pássaro. As coisas que me rodeiam com os seus segredos – mas as coisas, sabe-se lá, só existem porque as palavras dizem que existem. E os segredos das coisas estão em mim – e não nas coisas.

Quando subo pela haste da manhã, encontro uma cidade de cristal. Trouxeste-ma tu, na dádiva do corpo. E se conseguisse tocar-te com a respiração, ouvia-te dizer:

- É na desolação dos dias que o meu olhar segrega o mel com que te alimentas.

Penso no que te vou deixar: nomes de flores e de estrelas para refazeres os jardins e as constelações, e o peso etéreo da minha morte – para continuares a celebrar a vida.

Insónia. Noite fria, repleta de medos. Noite sem fim. Nada. Levanto-me e abro a janela. Respiro fundo. Um fio de sol embate na garrafa de gin abandonada ao lado da cama. Ponho os óculos e o dia torna-se nítido, focado, limpo, e cheira a violetas…

Às vezes, tenho a impressão de ter perdido a exactidão dos gestos e das palavras. Estive tempo a mais sozinho – reaprendo, com dificuldade, a ser cúmplice, amigo, amante.
Não me desagrada a ideia de viver num farol abandonado. Não me desagrada a ideia que a luz se apague. Não me desagrada pensar que posso perder a lucidez. Por isso bebo.
Beber ajuda a cicatrizar o olhar ferido da noite. Isola-nos do mundo, acende-nos os gestos, antes de nos perdermos de bar em bar.

Amantes e embriagados. Destinados à chuva das ruas, às cidades que ardem junto ao mar, ao silêncio azul das manhãs. - Aí vem o 28 dos Prazeres... e um táxi. - Não me abandones, fica... E o vinte e oito passa, e passa o táxi, enquanto olhamos A Dança de Matisse na capa dum livro.

Vamos pela manhã que se ergue, suja, enevoada – onde as palavras que digo se confundem com o teu sorriso. E os semáforos mudam de cor, inutilmente.

Rua da Rosa, Travessa da Espera, Calçada do Combro. Silêncio sobre silêncio. A vida suspensa no estremecer de um abraço.
- Até logo. Se te lembrares de mim, telefona.

Fecho por fim, as pálpebras. O teu rosto sobrepõe-se à imagem do meu rosto. A tua mão esconde-se na imagem da minha mão. E no espelho já não há imagens, nem corpos, nem mar...

Logo à noite, outra vez o olhar, os corpos, a chuva, o sono, a fuga, a alma, o dia, dos dias... o regresso. O telefone, e Lisboa a sussurrar no vento da tua ausência.

A vida é sacana. Sobretudo não é aquilo que nos disseram que era. Por vezes, quando nos sentimos a morrer, vemos como é disparatado saber que tudo vai acabar. Precisamente quando tínhamos descoberto alguém com quem podíamos falar. Passamos a vida numa espécie de silêncio, numa mudez terrível que se quebra, ainda que raramente, diante de certas coisas que nos contaram e nos deslumbraram.

Mas é tarde. As coisas que nos deslumbraram eram efémeras, breves. E não se pode voltar atrás.

Tenho um amigo que disse:
- Sabes, a verdade nunca acaba.
Mas o que será a verdade quando estivermos mortos?

Penso no lugar secreto do Caos e da Ordem que se erguem, subitamente, diante daquele que ama, e escreve.

Um dia, disseste:
- A paixão serve para te mostrar os fogos da noite.
Acreditei no que me dizias, mas já não consigo dormir, só morrer. O teu sorriso colou-se-me à boca.

Passo os dias a espiar as paisagens diluídas na memória que tenho de ti. Atravesso continentes que se transformam em minúsculas dores, pequenos territórios que cabem no fundo duma algibeira, ou em meia dúzia de palavras.

Lembro-me que numa viagem de comboio podemos encontrar gente cúmplice do silêncio – mas dificilmente um amigo de olhos cor-de-amêndoa que te diga:
- O teu olhar é belo.
Espantado, respondes:
- O meu olhar só é belo porque se deixou aprisionar pelo teu. Nesse lugar profundo onde nos cruzamos e o mundo faz sentido. E quando a distância nos separar, e Lisboa for apenas uma impressão vaga de mal-estar, uma parte de mim pertencer-te-á.

Mentir é necessário. É a melhor maneira de esconder o que há de doloroso na verdade.

Repara, através dos meus olhos descobrirás como é a grande tristeza do mundo. Apenas isso. E, quando aqui não estiveres, espetarei todas as facas que encontrar nas paredes febris da noite.

Talvez sangre dos pulsos. Talvez te escreva. Talvez...

Olho atentamente as fissuras do tecto. Desloco-me através delas, alcanço a noite. O teu rosto, de quando em quando, pousa na minha solidão. Há vinte anos que a vida se apagou nas linhas da mão, e os jardins da cidade permaneceram, todo esse tempo, envoltos na bruma. O Tejo não deixou o tempo correr.

Mas um dia, talvez agora, abrirei as mãos no escuro do quarto, e o teu rosto incendiar-se-á.

As mãos queimadas, memória da tua passagem.
Por isso te escrevo, com esta luz encostada à boca. E espalho a cinza destas palavras pelo escuro da noite. Perder-te, levar-me-ia ao zumbido ensanguentado duma bala. A paixão, a nossa, foi construída com a lentidão das obras-primas. E nela não há equívocos, nem erros. O teu rosto é perfeito e intenso – brilha, assim que o nomeio ou toco: sinal de vida, estremecer do mundo na melancolia das mãos.

Assim te raptei uma noite – com ansiedade e susto. E assim te mantenho vivo, e amo, dentro e fora do poema. Hoje, tudo me parece novo e antigo, em simultâneo, como se já soubesse que havias de chegar e mudar-me a vida, o rumo dela, e depois partir.

Lá fora chove. Chove sem parar. E Lisboa parece encolher-se dentro do teu sono.

Al Berto

Bocas OnLine

17 de janeiro de 2012

Palavras

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.

Pedro Tamen

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14 de janeiro de 2012

...Aguardo Os Sonhos, Pontuais Como A Noite...



Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro

onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor.

Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior que a minha:
o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passos

que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar esta cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa

e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.

Maria Do Rosário Pedreira

Bocas OnLine

11 de janeiro de 2012

Desde Sempre



Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua

 Sophia De Mello Breyner Andresen

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To Cry About




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