5 de dezembro de 2011

Fica Comigo Este Dia E Esta Noite...

Eu próprio aspiro essa fragrância, conheço-a e gosto dela,
Eu próprio dela poderia embriagar-me, mas não o
permitirei.
A atmosfera não é um perfume, não sabe a emanação
alguma, é inodora,
Para sempre ficará na minha boca, por ela me apaixonei,
Irei ao rio junto ao bosque e despojar-me-ei de disfarces
e roupas,
Estou louco por entrar em contacto com ela.
O fumo da minha própria respiração,
Ecos, ondulações, murmúrios e sussurros, raiz do amor,
fio de seda, forquilha e vide,
A minha respiração e inspiração, o bater do coração,
o sangue e o ar que passam pelos meus pulmões,
O odor das folhas verdes e das folhas secas, da praia e das
rochas escuras do mar, e do feno no celeiro,
O som das palavras que a minha voz atira aos remoinhos
do vento,
Alguns beijos leves, alguns abraços, os braços à volta
de um corpo,
O jogo de luz e sombra nas árvores com os dóceis ramos
balouçando,
O prazer de estar só ou no tumulto das ruas, ou pelos
campos e colinas,
A sensação de saúde, os gorjeios do grande meio-dia,
o meu canto ao levantar-me da cama e encontrar o sol.
Achas que mil acres são muitos? Achas que a Terra é muita?
Praticaste o necessário para aprender a ler?
Sentiste-te orgulhoso por captar o sentido dos poemas?
Fica comigo este dia e esta noite e possuirás a origem
de todos os poemas,
Possuirás o que há de bom na Terra e no Sol
(há milhões de sóis)
Não terás coisas em segunda ou terceira mão, nem verás
pelos olhos dos mortos, nem te alimentarás
dos espectros dos livros,
Nem através dos meus olhos verás, nem de mim terás
as coisas,
Escutarás tudo e todos e tudo em ti filtrarás.

Walt Whitman


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10 de novembro de 2011

2 de novembro de 2011

The Rebels


"Here’s to the crazy ones. The misfits. The rebels. The troublemakers. The round heads in the square holes. The ones who see things differently. They’re not fond of rules and they have no respect for the status quo. You can quote them, disagree with them, glorify them, or vilify them. But the only thing you can’t do is ignore them. Because they change things. They push the human race forward. And some may see them as the crazy ones, we see genius. Because the people who are crazy enough to think they can change the world are the ones who do."

Jack Kerouac


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5 de julho de 2011

Se Deus Está Morto Tudo É Permitido?


às vezes queria que a água lavasse
a culpa do rosto levasse de dentro
estilhaços (pensamentos) impurezas

João Luís Barreto Guimarães

Bocas OnLine

25 de junho de 2011

Haverá Talvez Um Poema Em Que O Soluço Aperte As Veias...


 haverá talvez um modo de amanhecer
que revele nos olhos o secreto ardor
com que se levanta o trigo enorme.
haverá talvez um lago que a noite não toque
e de dia em dia, como ontem, como amanhã,
cante a mulher que ali foi ver nascer o filho.
haverá talvez um suor que não o do sacrifício
e com o qual a pele cintile como uma borboleta
que vem descendo o céu até à flor dos teus lábios.
haverá talvez uma fala onde nos poderemos encontrar
sem que a tua mão esqueça a minha, sem que o sorriso
esconda o vazio, uma fala que só possa e saiba dizer nós.
haverá talvez um poema em que o soluço aperte as veias
como o rio aperta o mar, um poema em que eu e tu
dormimos sobre o luminoso esplendor do universo.

Vasco Gato

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21 de junho de 2011

Sou Uma Cidade Esquecida...


Ela disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio.
Ficaram em silêncio à janela
cada um à sua janela
olhando a sua cidade, o seu rio.
Ela disse: Não sou exactamente uma cidade.
Uma cidade é diferente de uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio exacto.
Agora na varanda
cada um na sua varanda
pedindo: Um pouco de ar entre nós.
Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.
De telefone preso entre o rosto e o ombro
para que ao menos se libertassem as mãos
cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele riu.

Filipa Leal



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18 de junho de 2011

Eu Vou Colhendo Com Unção Os Dias...


Eu vou colhendo com unção os dias
conforme tu os confias
à minha mão:
leves vestes que enfio
quando me despe o coração.

Ruy Belo


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Beauty...Madness



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16 de junho de 2011

Love And Passion




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E De Repente Acordamos Um Dia...

Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero

Alice Vieira

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14 de junho de 2011

Bad Liver



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Um Convidado Estranho...


entrego-te as palavras mais brandas
que entre os meus dedos construí
para alimentar de ti os recantos da casa
invadindo o coração da noite
entrego-te as palavras com a redonda luz
das maçãs sobre a mesa e o rumor da água
rasgando o caminho da paixão
em horas que já não conseguimos sem ajuda
[ recordar
mas que habitam a mais frágil memória de nós próprios
palavras jorrando dos meus olhos
invadindo-te o sono e tropeçando
nas esquinas das frases que decoro
ao longo dos veios da tua pele
e a verdade é que nunca terei outra história
para além da que nos aconteceu
e que ficamos à espera de um dia perceber melhor
porque nunca ninguém se prepara convenientemente
para a chegada do amor
e ele é sempre um convidado estranho
sentado em silêncio na penumbra da sala
olhando os quadros, o chão, o tecto
como um velho parente da província
com medo de dizer o que não deve

Alice Vieira


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12 de junho de 2011

Desire





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Tudo É Como Um Interior Violado


Luz descerrada e crua
Que não rodeia as coisas
Mas as desventra
De fora para dentro

Espaço de uma história sem refúgio

Tudo é como um interior violado
Como um quarto saqueado

Luz de máquina e fantasma

Sofia De Melo Breyner Andresen



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11 de junho de 2011

Orelha Negra




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Abraça-Me




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Eu Quero Olhar-Te Nos Olhos...


Eu quero olhar-te nos olhos,
E ver-te afastar delicadamente o cabelo da cara
Enquanto encostas a cabeça à ombreira da janela da sala,
E agarrar as tuas mãos febris
Com as minhas mãos geladas
E dizer-te que as nossas mãos
São asas com que podemos voar
Para lá da pequenez desta prisão crepuscular,
E mergulhar na magnitude do mistério.
E ouvir-te dizer que voar é impossível
E dizer-te que entre nós não há impossíveis,
E ver-te procurar a serenidade num cigarro
E esconder-te o isqueiro debaixo da manta
Cor-de-fogo que cobre o sofá velho,
E ver-te ir à última gaveta do móvel de carvalho
E acender o teu cigarro com um dos infindáveis
Isqueiros que lá guardas,
E ir à última gaveta da tua alma
E de lá arrancar o teu enigmático sorriso.
E fingir que não percebo que enquanto nos beijamos
Me roubas, maquiavelicamente, o comando da televisão,
E falar-te acerca da rapariga das tranças ruivas
Que aparece, na magia dos meus sonhos,
Sentada no banco do jardim da lua,
E sorrir aos teus ciúmes de alguém que não existe,
E fingir que estou a tossir mais que aflito
E ver-te esmagar bruscamente o cigarro contra o cinzeiro
E refugiares-te no chá de cereja,
E ouvir-te elogiar as chávenas rubro incandescente,
Que trouxeste da viagem ao México,
Só porque sabes que não gosto daquelas chávenas,
E ver-te despir para tomar banho
E tocar-te como quem lê um poema em braille,
Como se o teu corpo fosse, simultaneamente,
Uma encruzilhada onde me perco
E um mapa onde me volto a encontrar,
E reter-te por séculos nos meus braços,
E fugir quando alcanças o chuveiro ameaçador,
E esperar ansiosamente que termines o teu banho
E beijar o calor da tua pele húmida quando regressas,
E sorrir ao olhar falsamente ressentido
Que lanças desde o sofá onde estás deitada
Com o cabelo molhado,
E ver-te ceder ao peso das pálpebras
Quando as horas pesam séculos sobre os olhos,
E adormecer junto a mim,
E ser percorrido pela profunda paz
Que emerge da perfeição daquele momento,
Perfeição que, felizmente, não tens:
Gosto de ti, não apesar dos teus defeitos,
Mas com os teus defeitos. Todos.
E tocar-te uma vez mais,
Mas querer também deixar-te dormir,
E acordar antes de ti,
E ir à padaria buscar pasteis de nata
E ver-te deliciar com eles
Sem te importares de semear a cama com migalhas
Enquanto eu me delicio com o teu sorriso,
E ver-te beber sumo de laranja
Segurando o copo com as duas mãos,
E pressentir que te conheço há sete vidas
E que afinal tudo isto faz sentido
Porque tu existes,
E perceber a sorte que tive em te encontrar
No meio de seis biliões de seres humanos.
Eu quero olhar-te nos olhos,

E…

Gonçalo Nuno Martins

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9 de junho de 2011

Dolls

DoLLS



They can be bashful

They say girls become pretty when they're in love.
Is it really so?
I hope it's true.

Kitano Takeshi [2002]

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7 de junho de 2011

Roll The Dice


If you're going to try, go all the way.
Otherwise don't even start.
This could mean losing girlfriends, wives, relatives, jobs.
And maybe your mind.
It could mean not eating for three or four days.
It could mean freezing on a park bench.
It could mean jail.
It could mean derision.
It could mean mockery, isolation.
Isolation is the gift.
All the others are a test of your endurance.
Of how much you really want to do it.
And you'll do it, despite rejection in the worst odds.
And it will be better than anything else you can imagine.
If you're going to try, go all the way.
There is no other feeling like that.
You will be alone with the gods.
And the nights will flame with fire.
You will ride life straight to perfect laughter.
It's the only good fight there is.

Charles Bukowski

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If You Are Going To Try, Go All The Way



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Sublime Sedução


Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém...

Maria Gabriela Llansol



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6 de junho de 2011

Ainda Espero...


Ainda espero o amor
como no ringue o lutador caído
espera a sala vazia

Primeiro vive-se e não se pensa em nada
não me digam a mim
com o tempo apenas se consegue
chegar aos degraus da frente:
é difícil
é cada vez mais difícil entrar em casa

Não discuto o que fizeram de nós estes anos
a verdade é de outra importância
mas hoje anuncio que me despeço
à procura de um país de árvores

E ainda se me deixo ficar
um pouco além do razoável

não ouvem? O amor é um cordeiro que grita abraçado à minha canção.

José Tolentino Mendonça

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Vem...


Vem Morder-Me O Coração


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4 de junho de 2011

Rasgo O Melancólico



[...]
sacio a sede com a tua sombra para que nada me persiga
teço o casulo de cocaína escondo-me no mel da língua
lembro-me... fomos dois amigos e um cão sem nome
percorrendo a estelar noite noutros corpos
[...]

Al Berto

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No Name




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31 de maio de 2011

Se Me Abraçares, Não Partas...


Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.

Maria Do Rosário Pedreira

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27 de maio de 2011

Feeling



It'S A New Dawn

It'S A New Day

It'S A New Life ...For Me

And I'M Feeling Good

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Rain



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25 de maio de 2011

Para Ficar, Bastava-Me Uma Voz Que Me Chamasse...



Mãe, eu quero ir-me embora — os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim — tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.


Mãe, eu quero ir-me embora — nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique —
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito
como uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.


Mãe, eu vou-me embora — esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua — a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.


Maria Do Rosário Pedreira

Bocas OnLine

24 de maio de 2011

....Zarpam Navios Carregados Com Medos Do Fim Do Mundo...



se conseguires entrar em casa e
alguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra duma cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes
são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te
diz-lhes que vives junto do mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão.

Al Berto

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19 de maio de 2011

Terei No Corpo Todos Os Sabores...

Terei no corpo todos os sabores, e deverei
proporcionar aos desconhecidos a estranheza da
sedução, mas nunca por uma tentação me mostrarei o
suficiente para que descubram quem sou. Passarei
longe correndo e marcando a paisagem com cores
difíceis de repetir. Sempre que parar pousarei as mãos na
cara e não serei diferente dos outros. Então
descansarei um pouco.

Valter Hugo Mãe

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19 de abril de 2011

Vou Atirar Uma Bomba Ao Destino...

In these hard time for dreamers
are you a port in stormy season?
will you let me down?

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18 de abril de 2011

SomeWhere Over The Rainbow


I´m a lot to Handle.
You don´t know trouble.
I´m a hell of a scandal. Me? I´m a scene, I´m a drama queen.

Bocas OnLine

My Oblivion




[...] um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade [...]

Al Berto

Bocas OnLine

13 de abril de 2011

A Máquina Fotográfica






[...] É na câmara escura dos teus olhos
que se revela a água
água imagem
água nítida e fixa [...]
Moras aonde eu sei. É na distância
onde chego de táxi.

Sou turista
com trinta e seis hipóteses no rolo;
venho ao teu miradoiro ver a pista
trago a minha tristeza a tiracolo. [...]

José Carlos Ary Dos Santos

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