18 de setembro de 2013

Comboios Barcos que Vão Para Onde?


abandonar a aldeia o lugar a casa o corpo
a escrita e todas as paisagens
viajar no comboio-correio da noite

repisar tua sombra oblíqua naqueles areais
cercado de água morder o coral do medo
onde tua ausência se quebra...migrar
com as marés da noite para regiões onde o sonho existe
fora de ti

uma cerveja outra e outra
para que um sorriso se revele na embriaguez da despedida
abro um livro:
Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. Caminhar
em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém - é a isto que é preciso chegar.
não consigo ler mais...fecho os olhos
a paisagem desaparece num rápido e desfocado adeus

penso voltar
e sei que mentira desperta já em mim
recosto-me profundamente no assento...desafio o sono
invade-me a ânsia do eterno viajante

comboios barcos que vão para onde?
esperem por mim
eu vou

Al Berto

Bocas OnLine

25 de junho de 2013

As Tuas Mãos Queimam-Me A Fala


E tu sussurras:
- Não, não afastes a boca da minha orelha.
derrama dentro dela aquilo que não consegues dizer em voz alta.
E eu digo:
- As tuas mãos queimam-me a fala.
Tu sorris, dizes:
- Vem , sem medo, pela aridez do meu corpo.
No fundo de mim existe um poço onde guardo a tua imagem. É tempo de ta devolver. É tempo de te reconheceres nela.

Al Berto

Bocas OnLine

11 de junho de 2013

Coso Silêncios À Pele


Há várias maneiras de começar o dia
quando acordo fumo um cigarro

Coso silêncios à pele
num quarto inteiro de palavras vazias
que se repetem como rituais

Durante semanas ensaiei regressos
apesar das paredes vazias
não deixo de fingir que não estou só

Maria Sousa

Bocas OnLine

1 de junho de 2013

Estudaste Os Teus Mapas?


Um dia perguntou-me:
Estudaste os teus mapas? Conheces os caminhos?

Olhei-a desconfiada e, cheia de medo de me perder,
desenhei-me em quadrado,

desfiz-me em quilómetros.

Filipa Leal

Bocas OnLine

To Build A Home



There is a house built out of stone
Wooden floors, walls and window sills...
Tables and chairs worn by all of the dust...
This is a place where I don't feel alone
This is a place where I feel at home...

Bocas OnLine

10 de maio de 2013

Aqui Estou Eu Entre Demónios E Paredes Lisas


aqui estou eu entre demónios e paredes lisas
solicitando certificados bulas para viver melhor à sexta-feira

vale-me não ser ninguém: faziam-me a vida negra
assim basta o cinzento fato completo silencioso em lugar para os olhos

levantar cedo ver passar os carros
estar certo que o que digo já foi dito e selado

agora não me resta poesia alguns dias mais oscilando a cabeça
fazendo que sim

dá vontade de fugir vomitando tudo em volta mas o preço é preciso

se ao menos inventasse a cura do ar podia secar tranquilamente
agora espero pelo meio do escuro para gritar errei! errei! desmanchando o
                                                                                                          [cabelo

nada disto é aminha vida!
para que ninguém ouça nas coloridas salas do inferno terceira repartição

onde somos, mas todos, contínuos de comer por fora
Melhor seria ter ficado de lado entregue à simplicidade dos caminhos

sabendo que em nenhum lugar está a minha parte

Ao atravessar as ruas há outros como eu
a jeito para enfiar uma navalha ao fim da tarde

Aqueles para quem o mundo ia ser outro de mãos lavadas
e ficou tudo igual com mais ausentes à mistura

Um dia destes dou baixa dos infernos por motivo de cegueira interna
ou mando-me de um sítio alto

depois não sei se voltarei feito demónio de província
ou ficarei eterno como um exemplar a não seguir 
        
António Franco Alexandre

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19 de abril de 2013

The Walls Of This Room…


Se perguntarem por mim diz-lhes que Enlouqueci...

Bocas OnLine

18 de abril de 2013

Não Se Morre Apenas De Falta De Correspondência...

É preciso que saibam: este rosto
não está à venda. Há quarenta
e cinco anos que o trago apenas
para dar e receber o espanto
do amor e do tempo, do eco e da rosa
e a violenta companhia
insubstituível do mundo.

Os amigos mortos e sepultados
sob este sorriso, também não estão
à venda – é com eles que entro
na força dos versos em que falo
de nós todos. Estes olhos
já leram Platão (entre outros)
já viram chegar a noite
nas grandes cidades, corpos proibidos
homens e mulheres sem paixão
moribundos face a face com o absurdo
de um tempo já maior de quanto há neles

e casais cumpridores que não gastaram nunca
um tostão de amor a mais.

Já todos dormimos em má companhia
(mesmo se nos limitamos a dormir
inteiramente sós – e até por isso)

Meus prósperos e
devotos irmãos atarefados, deixai-me
em paz. Ou então dêem-me um pouco
de tabaco ou mandem-me
de férias um postal (mesmo
que morra). Um póstumo
postal. E sem remorso.
Já que não se morre apenas
de falta de correspondência...

Victor Matos E Sá

Bocas OnLine

17 de abril de 2013

Viro-Me Para A Terra Alegre Dos Sonhos


Uma noite, esquecido de tudo, pusera-se a observar o trabalho de tantos anos, e sentira uma espécie de náusea e de tédio.
Arrumara as telas e metera o resto do material numa grande caixa em cartão, resolvendo que não lhes tocaria mais; e fora nessa noite que descobrira que nunca se regressa ao que se abandonou.
No entanto, apesar da decisão tomada, um último compromisso com a galeria - uma performance - tinha de ser cumprido. Assim, dois meses mais tarde, na data prevista, Beno entrou na galeria como um sonâmbulo.
Sentia-se febril e tinha o rosto lívido, dessa lividez quase transparente e leitosa que só os mortos adquirem. E relembrou qualquer coisa que lera, havia muito tempo, num livro emprestado: É assim que um dia dizemos adeus, de muito longe, a alguém que nós fomos.

Al Berto

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If



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14 de abril de 2013

13 de abril de 2013

Um Silêncio Perfeito...

E sobretudo olhar com incidência. Como se nada se passasse, o que é certo. Mas a ti quero olhar-te até estares longe do meu medo, como um pássaro no limite afiado da noite. Como uma menina de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esbatido pela chuva. Como quando se abre uma flor e se revela o coração que não tem. Todos os gestos do meu corpo e voz para fazer de mim a oferenda, o ramo que o vento abandona no umbral. Cobre a memória da tua cara com a máscara daquela que serás e afugenta a menina que foste. A nossa noite dispersou-se com a neblina. É a estação dos alimentos fritos. E a sede, a minha memória é de sede, eu em baixo, no fundo, no poço, bebia, recordo.
Cair como um animal ferido no lugar de hipotéticas revelações. Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Dentro o vento. Tudo fechado e o vento dentro. Sob o negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Ha alguém aqui que treme. Ainda que diga sol e lua e estrelas refiro-me a coisas que me acontecem. E o que desejava eu? Desejava um silêncio perfeito. Por isso falo. A noite parece um grito de lobo. Delícia de perder-se na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui à procura de quem sou. Peregrina, avancei em direcção àquela que dorme num país ao vento. A minha queda sem fim na minha queda sem fim onde ninguém me esperava pois ao descobrir quem me esperava outra não vi senão a mim mesma. Algo cai no silêncio. A minha palavra foi eu embora me referisse à aurora luminosa. Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento. Deslumbramento do dia, pássaros na manhã. Uma mão desata as trevas, arasta a cabeleira da afogada que não cessa de passar pelo espelho. Volto à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos de luto, hei-de compreender o que a minha voz diz.

Alejandra Pizarnik

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8 de abril de 2013

Common Burn



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Começa O Tempo Onde A Boca Se Desfaz Na Lua

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela despenhada de sua órbita viva.

- Porém, tu sempre me incendeias.

Herberto Helder

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7 de abril de 2013

My Love



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Bom Dia...Tristeza

Julgava que te tinha dito adeus,
um adeus contundente, ao deitar-me,
quando pude por fim fechar os olhos,
esquecer-me de ti, dessas argúcias,
dessa tua insistência, teu mau génio,
tua capacidade de anular-me.
Julgava que te tinha dito adeus
de todo e para sempre, mas acordo,
encontro-te de novo junto a mim,
dentro de mim, rodeias-me, a meu lado,
invades-me, afogas-me, diante
dos meus olhos, em frente à minha vida,
por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras
por meu nariz quando respiro, vês
pelas minhas pupilas, lanças fogo
nas palavras que minha boca diz.
E agora que faço? Como posso
desterrar-te de mim ou adaptar-me
a conviver contigo? Principie-se
por demonstrar maneiras impecáveis.
Bom dia, tristeza.

Amália Bautista

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31 de março de 2013

Quantas Pessoas Caminham Contra Mim?

Quantas pessoas caminham na
minha direcção? Quantas me
descobrem por entre a multidão
e pousam os seus olhos inteiros
nos meus olhos? Podia acreditar

que entre elas está o homem que
trocaria comigo os dedos sobre a
mesa, uma palavra que fosse gomo
de laranja e poema, o corpo aceso

sob o lençol cansado de mais um
dia. Mas quantos destes rostos de
pedra que me cercam escondem o
seu pelas ruas desta tarde? Quantos
nomes de acaso e de silêncio terei
eu de escutar para descobrir o seu

no meu ouvido? Quantas pessoas
caminham contra mim?

Maria Do Rosário Pedreira

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30 de março de 2013

In Trouble



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Regresso Devagar Ao Teu Sorriso Como Quem Volta A Casa




Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.

Faço de conta que não é nada comigo.

Distraído percorro o caminho familiar da saudade, pequeninas coisas me prendem, uma tarde num café, um livro.

Devagar te amo e ás vezes depressa, meu amor, e ás vezes faço coisas que não devo, regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no amor como em casa.

Manuel António Pina

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Yessss


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21 de março de 2013

Preciso Olhar Para Ti Durante 27 Segundos...


Há três dias que durmo desordenadamente.
Transpiro e acordo e vejo casas que são desdobramentos da minha própria casa.
A verdade é que preciso de ti para um poema.
Preciso que te passeies por uma dessas casas, que te sentes, que te deites.
Preciso olhar para ti durante 27 segundos...

Vasco Gato

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A Quantos Beijos Estamos Hoje De Distância?



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20 de março de 2013

I Swear I Died Inside That Night



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Um Sonho...


Tudo o que vemos ou parecemos...não passa de um sonho dentro de um sonho.

Edgar Allan Poe

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18 de março de 2013

Pajaros


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Look...My Mouth...My Finger


Compreendo e respeito todos aqueles [as] que fazem comentários de uma forma anónima.
Mas, quem o faz usando a capa do anonimato para insultar só demonstra ser imensamente cobarde.

Minha cara amiga [o] eu sei quem tu és... e, se no passado formalizei uma queixa contra ti na Polícia Judiciária, posso fazê-lo novamente.
Cyberbullying é crime!

Recordo-te a definição do Cyberbulling [Podes sofrer de diarreia mental e não teres conhecimento do significado]
"O uso de tecnologias de comunicação e informação como forma de levar a cabo comportamentos deliberados, repetidos, hostis contra um indivíduo ou grupo, com a intenção de causar dano"

E se afirmas que sou louca aqui vai um pouco da minha loucura....

Lick My Finger And Fuck You!

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15 de março de 2013

Beber Horas Roubadas


Chama-se amor a isto:
beber horas roubadas,
no receio constante
de que alguém as descubra
. . . . . (assim se tem cadastro!);
morder com pressa
a polpa dos minutos,
sem lhes sorver o sumo,
sem lhes tirar a casca
. . . . . (assim se apanham úlceras!);
ter este modo brusco
de engolir os segundos,
como se fossem cápsulas
de qualquer barbitúrico
. . . . . (assim se morre às vezes!)
O culpado: este cão
que trazemos bem preso,
todo agarrado ao pulso,
e a que chamamos Tempo.
. . . . . (sempre a ganir de susto.)

David Mourão - Ferreira

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Do You Really Want To Hurt Me...



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14 de março de 2013

Estendi A Mão Por Qualquer Coisa Inocente


Estendi a mão por qualquer coisa inocente
uma pedra, um fio de erva, um milagre
preciso que me digas agora
uma coisa inocente.

Não uses palavras
qualquer palavra que me digas há-de doer
pelo menos mil anos
não te prepares, não desejes os detalhes
preciso que docemente o vento
o longínquo e o próximo
espalhe o amor que não teme.

Não uses palavras
se me segredas
aquilo que no fundo das nossas mentiras
se tornou uma verdade sublime.

José Tolentino Mendonça

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Quero Oferecer-Te A Paz De Um Sonho Aberto



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This Is A Story About Love


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Bom Dia!


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13 de março de 2013

Will You Let Me Down?


In these hard time for dreamers.
Are you a port in stormy season?

Will you let me down?

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10 de março de 2013

Dançava...Às Vezes, Por Dentro De Si Mesma


Bocas OnLine

Na Montra De Uma Loja Do Nosso Sono


Deixas rasto no meu peito durante horas. Dou com
cabelos teus colados, dias depois, à roupa do meu sorriso.
Encontro nos vincos mais longínquos dos meus
dedos o cheiro parado do teu olhar tão móvel. Procuro-te
nas esquinas dos instantes que passam. Reconheço-te
no vinco que a ternura deixa na carne do peito do
meu olhar, aquele que deito para longe, para outra esquina,
de onde recebo mensagens de outro olhar igualmente
teu, igualmente meu, reflectido na montra de
uma loja do nosso sono.

Manuel Cintra

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15 de fevereiro de 2013

Queres Saber Quem Sou?


Queres Saber Quem Sou?

...Eu sou o que te olha e espia para te recolher e depois guardar num lugar que é só meu.
Para isso serve o papel.
O resto não precisas saber.
Nem convém.
Só te ia distrair, podes crer.
Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida para sentir a minha a voltar.

Pedro Paixão


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La Flor Que Crece En Mi


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29 de janeiro de 2013

Faz Do Sangue A Morada Das Tuas Noites

faz do sangue a morada das tuas noites
e nada será tão verdadeiro
como o lume da pele com que te dispo

e o que resta das manhãs que deixaste
à cabeceira do meu corpo
ficará entregue às tuas mãos de terra
onde tudo pode a seu tempo germinar

mas há sempre uma noite em que tudo
magoa assustadoramente
mesmo que na escada o som dos teus passos
se prolongue em todos os corredores das minhas mãos

e já não posso adiar por mais tempo
as palavras que sempre soube terem
um prazo secreto de validade
para nos ferirem de morte

então
deixa que a minha boca desfaça no teu corpo
os caminhos da casa a que um dia
vais querer voltar
porque terás sempre o meu nome
a rebentar das tuas veias
e hás-de esquecer entre os dentes
a areia que media o tempo das esperas
vermelho e leve como as romãs de novembro

e muito mais tarde alguém te vai pedir amor
como se fosse um fruto fora de época
ou o cheiro a incenso de um domingo de província
e tu não vais ter nada para dar
porque tudo o que havia eu já levei comigo
entre os cigarros / os retratos / a roupa amarrotada

mas ouve
não abras ainda a porta
restam-me alguns segundos para ensinar
à memória que vais ter de mim
como adormecer na curva das madrugadas
- para que um dia ela consiga perceber
que é assim que tudo acaba

Alice Vieira

Bocas OnLine

16 de janeiro de 2013