10 de maio de 2013

Aqui Estou Eu Entre Demónios E Paredes Lisas


aqui estou eu entre demónios e paredes lisas
solicitando certificados bulas para viver melhor à sexta-feira

vale-me não ser ninguém: faziam-me a vida negra
assim basta o cinzento fato completo silencioso em lugar para os olhos

levantar cedo ver passar os carros
estar certo que o que digo já foi dito e selado

agora não me resta poesia alguns dias mais oscilando a cabeça
fazendo que sim

dá vontade de fugir vomitando tudo em volta mas o preço é preciso

se ao menos inventasse a cura do ar podia secar tranquilamente
agora espero pelo meio do escuro para gritar errei! errei! desmanchando o
                                                                                                          [cabelo

nada disto é aminha vida!
para que ninguém ouça nas coloridas salas do inferno terceira repartição

onde somos, mas todos, contínuos de comer por fora
Melhor seria ter ficado de lado entregue à simplicidade dos caminhos

sabendo que em nenhum lugar está a minha parte

Ao atravessar as ruas há outros como eu
a jeito para enfiar uma navalha ao fim da tarde

Aqueles para quem o mundo ia ser outro de mãos lavadas
e ficou tudo igual com mais ausentes à mistura

Um dia destes dou baixa dos infernos por motivo de cegueira interna
ou mando-me de um sítio alto

depois não sei se voltarei feito demónio de província
ou ficarei eterno como um exemplar a não seguir 
        
António Franco Alexandre

Bocas OnLine

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