3 de novembro de 2012

Se Me Abraçares, Não Partas


Vem ver-me antes que eu morra de amor — o sangue
arrefece dentro do meu corpo e as rosas desbotam
nas minhas mãos. Da minha cama ouço a tempestade
nos continentes; e já quis partir, deixar que o vento
levasse a minha mala por aí; fiz planos de correr mundo
para te esquecer — mas nunca abria a porta.

Vem ver-me enquanto não morro, mas vem de noite —
a luz sublinha a agonia de um rosto e quero que me recordes
como eu podia ter sido. Da minha cama vejo o sol
tatuar as costas do meu país; e já sonhei que o perseguia,
que desenhava o teu nome no veludo da areia e sentia
a vida pulsar nessa palavra como um músculo tenso
escondido sob a pele — mas depois acordava e não ia.

Vem ver-me antes que morra, mas vem depressa —
os livros resvalam-me do colo e o bolor avança
sobre a roupa. Da minha cama sinto o perfume das
folhas tombadas nos caminhos, O outono chegou. E o quarto
ficou tão frio de repente. E tu sem vires. Agora
quero deitar-me no tapete de musgo do jardim e ouvir
bater o coração da terra no meu peito. Os vermes
alimentam-se dos sonhos de quem morre. E tu não vens.

Maria Do Rosário Pedreira

Bocas OnLine

13 comentários:

Anónimo disse...

"visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado
...

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te"

Seraphyta disse...

Anónimo,

:))

Al Berto,...sempre Al Berto

"...Estávamos em Julho, fechei o caderno contigo lá dentro,
nunca mais voltei a apaixonar-me..."

A porta continua aberta. Não sei até quanto e porquê.

So, will you dance with me?

http://www.youtube.com/watch?v=sT8jrCwrUZk

Anónimo disse...

"Ainda agora é nítido o som dos teus abraços na aurora da minha pele... gostos que se misturam em meio as marcas dos beijos que te roubei.
Minhas mãos, ainda trazem o mapa da tua pele, tatuado em cores de entrega"

Anónimo disse...

e por falar em portas abertas ou entreabertas :-)

"Já deixei a sala só à luz de vela, que reflete o seu olhar Pus rosa vermelha no centro da mesa, que sensualiza o ar Botei nossa foto do primeiro encontro na estante sobre o bar Me ajeitei no espelho, me sentei à espera no meu canto do sofá

Vem... Porque sem você essa casa é deserta Vem... Que vai ser sempre assim que você vai me achar Vem... Que a paixão me desperta!"

Seraphyta disse...

Anónimo,

"Deixas-me com meus desamparos
Não sabes do estio dos meus lábios
E das marcas que abraçam minha solidão
Pedaços de ti que arranham meu corpo..."

Seraphyta disse...

Anónimo,

"Todas as coisas que a casa guardou quando partiste não
me pertenceram; porque, ao tocar-lhe nos dias mais
cinzentos, sinto que é pelo calor dos teus dedos que ainda
gritam; e mesmo a cama onde só teu corpo era bem-vindo
nunca chegou a ser inteiramente minha, pois, de contrário,
encontraria nela o meu lugar, e não o teu vazio."

Anónimo disse...

"Nocturnamente te construo
para que sejas palavra do meu corpo

Peito que em mim respira
olhar em que me despojo
na rouquidão da tua carne
me inicio
me anuncio
e me denuncio

Sabes agora para o que venho
e por isso me desconheces"

Seraphyta disse...

Anónimo,

"...Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração..."

Anónimo disse...

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem tua noite e loucura, não há vindima ou água em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra a carne transcendente. E em ti principiam o mar e o mundo."

Seraphyta disse...

Anónimo,

o meu nome é:
pimenta,
areia sentada,
abertura da luz para onde saltam laranjas que pulsam,

ah, deixa-me passar,
digo-te baixo como hoje me chamo
e como nunca mais me chamarei:
loucura,

depois terei um só nome:
revelação,
até que os dias arquejantes me sufoquem e,
no terror que te atravessa como água dolorosa,

eu seja a tua ilha a prumo,
onde habitas,
tu próprio uma ilha desabitada...

Anónimo disse...

"Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura, não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo."

Anónimo disse...

"Se tu viesses. Ainda que trouxesses a tua pequena ruga de irritação. E se te sentasses aqui comigo à braseira a ouvir a tempestade. E eu te tomasse uma tua mão, abandonada e fria. E houvesse calor bastante em fitar o teu olhar. E soubesses como era bom eu olhar-te. E inventássemos a harmonia de estarmos assim um com o outro até sempre, a ouvir a chuva e o vento. E ficarmos assim em silêncio por já termos dito tudo."

Seraphyta disse...

Anónimo,

"Julgava que te tinha dito adeus
de todo e para sempre, mas acordo,
encontro-te de novo junto a mim,
dentro de mim, rodeias-me, a meu lado,
invades-me, afogas-me, diante
dos meus olhos, em frente à minha vida,
por sob a minha sombra, nas entranhas,
em cada golpe do meu sangue, entras
por meu nariz quando respiro, vês
pelas minhas pupilas, lanças fogo
nas palavras que minha boca diz.
E agora que faço? "