Uma noite, esquecido de tudo, pusera-se a observar o trabalho de tantos anos, e sentira uma espécie de náusea e de tédio.
Arrumara as telas e metera o resto do material numa grande caixa em cartão, resolvendo que não lhes tocaria mais; e fora nessa noite que descobrira que nunca se regressa ao que se abandonou. No entanto, apesar da decisão tomada, um último compromisso com a galeria - uma performance - tinha de ser cumprido. Assim, dois meses mais tarde, na data prevista, Beno entrou na galeria como um sonâmbulo.
Sentia-se febril e tinha o rosto lívido, dessa lividez quase transparente e leitosa que só os mortos adquirem. E relembrou qualquer coisa que lera, havia muito tempo, num livro emprestado: É assim que um dia dizemos adeus, de muito longe, a alguém que nós fomos.
Al Berto
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