Pudesse eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite –
e deitar-me na terra; e não ouvir senão o rumor das ervas e o canto do vento nos ciprestes; e não ter medo das sombras,
nem das aves negras nos meus braços de mármore,
nem de te ter perdido – não ter medo de nada. Pudesse
eu fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo –
das tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite; de não teres dito a única palavra que me faria salvar-te, mesmo
deixando que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo
já tinha desistido, que ias matar-te em mim e que era tarde
para eu pensar em devolver-te os dias que roubara. Pudesse
eu cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi – porque foi pelo poema que me amaste, o poema foi sempre
o que valeu a pena (o mais eram os gestos que não cabiam
nas mãos); e pudesse eu deixar de escrever esta manhã
e pudesse eu morrer
mas ouço-te a respirar no meu poema.
Maria Do Rosário Pedreira
6 comentários:
Haverá um momento em que pensarás: "está na hora".
Skin,
Talvez...nada espero. Deixei de criar expectativas, sou uma descrente.
#Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo."
Anónimo,
"Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo"
"Um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, acordarei entre os teus braços. A tua pele será talvez demasiado bela. E a luz compreenderá a impossível compreensão do amor. Um dia, quando a chuva secar na memória, quando o Inverno for tão distante, quando o frio responder devagar como a voz arrastada de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela. Sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar a perfeição da felicidade."
Anónimo,
"Pago-te um café se me contares
o teu amor"
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